Apesar da fronteira política que separou o Vale do Minho em dois estados durante séculos, a população deste território galego português continuou a partilhar uma cultura comum que foi transmitida oralmente, de geração em geração, e que constitui parte da identidade deste território.
Alguns desses conhecimentos e sabedoria estão atualmente em perigo de desaparecer e apenas são mantidos vivos por pessoas, geralmente de idade avançada, que são capazes de os recordar e recriar e por isso são uma referência para a comunidade, o chamado ‘Tesouro Humano Vivo’.
A origem do conceito do Tesouro Humano Vivo remonta a 1950. Nessa altura o governo do Japão, consciente das transformações que sua civilização milenar estava a passar e pela importância de preservar a sua vasta cultura imaterial, começou a designar como Tesouro Humano Vivo aquelas pessoas que encarnavam os valores culturais intangíveis do país. Outros estados seguiram o exemplo do Japão, estabelecendo os seus próprios programas oficiais para o reconhecimento de valores intangíveis, tais como a França, Filipinas, Roménia, Coreia do Sul e Tailândia.
Em 1993, a Unesco deu um passo decisivo ao estabelecer um programa específico chamado “Tesouros Humanos Vivos” e ao encorajar a todos os Estados membros da organização internacional a seguir estes exemplos.
Segundo a definição da UNESCO, um Tesouro Humano Vivo é uma pessoa que possui um alto grau de conhecimento e as habilidades necessárias para executar ou recriar elementos específicos do patrimônio cultural intangível. São também conhecidos como Tesouros Nacionais Vivos, Maîtres D’art ou Depositários da Tradição das Artes e Ofícios Populares.
Clementina Ozores, habitante de Tomiño e um dos nossos Tesouros Humanos Vivos, diz que sempre falou goianés. Ela ainda o fala com os poucos vizinhos que o conhecem como ela.
Maria do Amparo nasceu em Melgaço em 1945 e emigrou para França, onde permaneceu durante cinquenta anos até à reforma. Os seus jogos preferidos eram a mariola e o jogo do pano.
Rosario mantém vivo o uso do goianés quando está na companhia das pessoas que ainda sabem falar, embora sejam cada vez menos.
Maria de Lourdes nasceu em Melgaço em 1951 e destaca entre os seus jogos preferidos os berlindes.
Isalina Fernandes fala em castrejo, um arcaísmo próprio de Castro Laboreiro e que tem uma sonoridade galega. As rugas do seu rosto e o seu olhar cansado pressagiam o que ela repetirá várias vezes, que a sua vida foi dura.
Manuel Araújo nasceu em Vila Nova de Cerveira em 1950 e emigrou para trabalhar em França durante muitos anos.
Leonor Rodrigues nasceu na freguesia de Castro Laboreiro, em 1965, numa família que sempre viveu na serra. Agora ela é uma das poucas, praticamente a única, que ainda vive lá…
Joaquim nasceu em São Paulo em 1919, devido ao facto do seu pai ter emigrado para o Brasil. Em Portugal, quando o seu pai morreu, aprendeu a tocar a concertina sozinho, ouvindo a música da grafonola.
Maria Conceição Gonçalves, nascida em Melgaço em 1949, participa deste grupo. De mãe peixeira e pai sapateiro, teve que emigrar aos 20 anos para França, onde permaneceu até a aposentadoria.
Camilo Romero nasceu em Tomiño, em 1935. Quando era criança, começou a trabalhar na agricultura com o seu pai e mais tarde combinou vários empregos com seu amor pela música.
José Pereira nasceu em Melgaço em 1944, numa família trabalhadora. Aos doze anos de idade, foi trabalhar para Lisboa e aos vinte anos emigrou para França.
Gloria nasceu em Parada de Monte, uma aldeia da montanha do concelho de Melgaço, em 1947. O seu pai era um emigrante e sua mãe geria uma escola.
Humberto Fernandes nasceu em Melgaço em 1952 e começou a trabalhar aos quatorze anos de idade.
Divina nasceu em As Neves em 1949. A família da sua mãe era dona do restaurante na estação de comboios desde 1911 e foi lá que aprendeu a cozinhar as espécies de peixe capturadas no rio Minho.
José Manuel nasceu em As Neves em 1949. A sua família possuía barcos de pesca na margem do rio e aprendeu com o seu pai e o seu avô os conhecimentos associados à pesca a partir dessas construções.
José Ramón nasceu em As Neves, em 1945. Ele começou a ir ao rio quando era criança, acompanhado pelo seu pai, que o iniciou no mundo da pesca e que lhe ensinou os seus segredos.